terça-feira, 6 de setembro de 2011

Uma receita para cada caso

Artigo sobre biblioterapia publicado pelo Correio Braziliense em 2010...


Correio Braziliense - DF, em 27/6/2010

A ideia de ler os livros certos e, de repente, ver seus problemas evaporarem é um tanto simplista. A bibliotecária e professora Maria Alice Borges alerta que uma escolha de títulos feita de forma inadequada pode não dar resultado algum. Para não correr o risco de errar na mão, ter sensibilidade para perceber as reais necessidades dos pacientes e o ambiente onde o trabalho está sendo feito é essencial.

Uma pessoa com tendências suicidas, por exemplo, não se beneficiará com leituras apenas sobre suicídio. “Você passa pelo tema, mas sob o ponto de vista de uma discussão, sabendo que nós poderemos chegar a uma situação igual a de outra pessoa que não tenha passado por isso.” Diferentemente de uma leitura banal, a biblioterapia busca dar informações sobre os problemas vividos e os resultados que se espera alcançar – que mudam dependendo do público-alvo abordado. “Se for em um hospital, você tem que ter uma literatura que não seja de reforço àquela dependência hospitalar, mas uma que mostre que aquela dependência é um período transitório para uma mudança”, ilustra a bibliotecária.

Ela explica que, quando o trabalho é feito com crianças abandonadas, por exemplo, o cuidado com os livros receitados deve ser redobrado. Para ajudar a minimizar os impactos da realidade já complicada em que vivem, os profissionais podem usar e abusar da imaginação. Das histórias com fantoches a livros de contos, o principal é minimizar as deficiências e reforçar a mensagem de que há sim uma realidade complicada, mas também alternativas para ela.

E foi para apontar alternativas a uma realidade triste que a bibliotecária Mariana Giubertti, 24 anos, resolveu se aprofundar no assunto.

Em 2009, a então estudante decidiu transformar a biblioterapia em projeto de conclusão de curso. Em um ano, Mariana mapeou e coletou dados em um orfanato, tendo como objetivo montar uma biblioteca infantojuvenil que usasse princípios da bilbioterapia. “Quis fazer isso não só para suprir as necessidades emocionais dessas crianças, mas para incentivá-las a ler, para que elas tomassem gosto por isso”, justifica.

O amor pela palavra impressa gerou não apenas o projeto de planejamento da biblioteca, mas também de uma brinquedoteca e de um ambiente de inclusão digital. A satisfação só não foi maior pela impossibilidade de ver tanto trabalho sair do papel. “Não pude aplicar o projeto porque o orfanato fechou”, lamenta Mariana.

A também bibliotecária Cristiane de Castro Pires, 22, teve mais sorte que Mariana. Assim como ela, Cristiane também elegeu a biblioterapia como tema principal de seu trabalho para se formar em biblioteconomia, no ano passado. Entretanto, o foco não eram crianças, mas pacientes com câncer. O primeiro passo foi, literalmente, fazer as devidas apresentações entre os pacientes e as obras. “Procurei livros que tinham imagens bonitas, porque muitos não sabiam ler ou não tinham o hábito ainda”, conta.
Quando a pesquisa acabou, veio a vontade de colocar a mão na massa.

Por enquanto, Cristiane conta que ainda está na fase de classificar os livros – todos vindos de doações.

“Quando a biblioterapia realmente começar, espero ter o auxílio de psicólogos e até de pacientes que gostam de ler e se disponham a ler para os outros”, diz. Segundo Sandra Bonfim Baptista, assistente social que também vestiu a camisa do projeto, a previsão é que o trabalho comece em julho deste ano. “A gente espera contribuir para que eles superem o tratamento e a dor da doença”, completa.

(Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2010/06/28/uma-receita-para-cada-caso/)

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